sábado, 7 de setembro de 2019

As independências latino-americanas




América Latina

A expressão América Latina é utilizada para se referir a um conjunto de países que apresentam características histórico-culturais em comum. Muitos desses países falam línguas de origem latina, pois foram colônias de Portugal, Espanha ou França.
As colônias da América Latina se libertaram de suas metrópoles, sobretudo, na primeira metade do século XIX. Nesse período, várias condições favoreceram as lutas por independência. Entre elas, a influência das ideias iluministas, a busca por autonomia administrativa e liberdade comercial.

Haiti

Na colônia francesa de São Domingos (atual Haiti) as lutas pela independência foram lideradas por ex-escravizados de origem africana.
No século XVI os espanhóis colonizaram a ilha e a chamaram de Hispaniola. Os espanhóis ocuparam a parte leste da ilha, onde se estabeleceram e escravizaram os indígenas locais. Em 1697 a parte oeste da ilha foi colonizada pela França. A partir deste momento a região que hoje corresponde ao Haiti recebeu o nome francês de Saint Domingue e foi transformada em uma das colônias mais produtivas da América. Lá os franceses instalaram latifúndios de cana-de-açúcar e café, onde utilizavam amplamente o trabalho escravo. Por volta de 1790 viviam na ilha mais de 500.000 pessoas escravizadas e cerca de 56 mil pessoas livres.

     Demografia do Haiti em 1790
População
Números Totais
Porcentagem da
População Total
Brancos
32.000
6%
Negros Livres
24.000
4%
Negros Escravizados
500.000
90%

Independência haitiana
Influenciados pela Revolução Francesa e pelos ideais de liberdade do iluminismo, os escravos passaram a se rebelar e a lutar pela independência de São Domingos.  Devido a forte influência iluminista deste processo histórico, o historiador Cyril L. R. James (1901-1989) se referia aos escravos insurrectos como os “jacobinos Negros”.
O Haiti se tornaria o primeiro país das Américas a abolir a escravidão e o segundo país a se tornar independente embora a França só reconhecesse a independência haitiana em 1825. Os eventos ocorridos no Haiti despertariam o medo das elites europeias nas colônias americanas e seriam vistos como fonte de inspiração para as demais populações escravizadas nas américas.

Independências na América Espanhola

 Durante quase três séculos, a coroa da Espanha dominou uma parte imensa da América. Até o início do século XIX, a administração colonial espanhola organizava esses domínios em quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais.
Os vice-reinados eram: Nova Espanha (1535), Peru (1542), Nova Granada (1718) e Rio da Prata (1776). As capitanias gerais eram: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Este grande império colonial ruiria rapidamente, entre os anos de 1810 e 1828.

A sociedade colonial: Elites e camadas populares
Na América Espanhola, as elites coloniais eram formadas sobretudo pelos grandes proprietários de terras, ricos comerciantes e donos de minas de prata e ouro. Essas elites dividiam-se em dois grupos: os Chapetones (colonizadores nascidos na Espanha) e os Criollos (filhos de espanhóis nascidos na América).
Apesar do poder econômico, os criollos não tinham os mesmos direitos políticos dos chapetones, que ocupavam os principais cargos na administração pública, na igreja e no exército. O poder político dos criollos estava ligado no máximo aos Cabildos (câmaras municipais), com poder de decisão apenas local.
Fora estas divisões, que já geravam muito descontentamento na elite criolla, a interferência do governo da Espanha sobre a vida econômica das colônias americanas também começava a incomodar as elites locais. Assim, muitos criollos, em busca de liberdade econômica e maior poder polítco, tornaram-se importantes líderes das independências.
As camadas populares também lutaram contra o governo espanhol, mas não com os mesmos interesses das elites. De modo geral os indígenas, negros e mestiços estavam submetidos a péssimas condições de vida. Por isso, lutavam por conquistas como igualdade de direitos, distribuição de terras e fim da escravidão. O papel das camadas mais baixas da sociedade foi fundamental para que as independências nacionais fossem alcançadas uma vez que eram estas pessoas que compunham os exércitos revolucionários.

Enfraquecimento do governo espanhol
Em 1807, a Espanha foi invadida por tropas francesas dentro do contexto das Guerras Napoleônicas. O rei espanhol Fernando VII (1784-1833) foi afastado do poder e o trono foi ocupado pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte (1768-1844).
Aproveitando-se desse momento, os colonos da América espanhola formaram Juntas de Governo, em cidades como Buenos Aires, Montevidéu, Caracas, Quito e Santiago, reunindo os representantes das elites locais com o objetivo de lutar por maior liberdade econômica e política.
Com o fim das Guerras Napoleônicas e a restauração de Fernando VII ao poder, o governo de Madri procurou restabelecer sua autoridade sobre as colônias americanas mas passou a enfrentar resistência das elites locais.

Independência nas Américas do Norte e Central
Na América do Norte iniciou-se em 1810 as lutas pela independência do México. Esses conflitos que ocorreriam entre 1810 e 1815 foram lideradas por dois padres, Miguel Hidalgo e José Morelos. Foi um movimento de enorme participação popular que reivindicava pautas objetivamente populares como por exemplo o fim dos impostos pagos pelas populações indígenas. Devido ao seu caráter popular esses movimentos foram combatidos tanto por espanhóis fiéis ao rei quanto pelas elites criollas mexicanas. Após o movimento popular ser esmagado as elites locais, lideradas pelo general Agostinho de Itúrbide passou a lutar contra as forças espanholas obtendo uma série de vitórias militares e obtendo a independência do país em 1821.
As lutas dos mexicanos inspirariam os habitantes da América Central a também buscarem se libertar do domínio espanhol. Os territórios que hoje constituem a Guatemala, Honduras, Costa Rica e El Salvador formariam brevemente um único país após obterem sua liberdade. Entre 1823 e 1839 formou-se entre esses território as Províncias Unidas Centro-Americanas, que se dividiriam nos quatro países citados anteriormente após um período de instabilidade e guerra civil.

Independência na América do Sul
Na América do Sul os mesmos mecanismos e fenômenos já discutidos também ocorreram. Dentro deste contexto duas figuras destacam-se em importância, José de San Martin(1778 – 1850) e Simón Bolivar (1783 – 1830). Ambos são exemplos da elite criolla que se posicionava contra a Espanha neste momento histórico. San Martin nasceu em uma rica família proprietária de terras que mantinha sua fortuna com a criação de gado. Ainda jovem estudou na Espanha onde também iniciou sua carreira militar. Durante as movimentações pela libertação no Vice-Reinado do Prata, San Martin liderou as forças locais contra as tropas espanholas derrotando-as seguidamente e libertando os territórios atuais da Argentina, Chile e Peru.

No norte da América do Sul o processo de independência foi capitaneado por Simón Bolívar. Também pertencente a elite criolla local, Bolívar nasceu em uma rica família ligada ao setor rural da economia venezuelana. Produtores de cacau e donos de escravos, sua família exemplifica com precisão a elite sul americana que passou a contestar o poder espanhol. Educado na Europa a partir dos quinze anos de idade. Lá, entrou em contato com os ideais iluministas que influenciaram a independência dos Estados Unidos e a própria Revolução Francesa. De volta a América engajou-se na luta pela independência venezuelana, recebeu apoio dos ingleses e do governo haitiano e foi fundamental para a derrota espanhola e a libertação da Colômbia e Equador, além da própria Venezuela.

Caudilhismo e autoritarismo

As independências dos países latino-americanos provocaram transformações como a aprovação de medidas ligadas à liberdade de comércio que, em princípio, favoreceram a Inglaterra. Medidas no sentido de abolir a escravidão também foram tomadas.
Depois das independências houve um longo período em que os caudilhos predominaram na administração dos países. Os caudilhos eram chefes políticos e militares. Alguns deles eram líderes populares que assumiam o poder pelo voto; outros conquistavam o poder a força. Todos governavam de forma autoritária. Em certos momentos, havia uma aparência de democracia, em que os cidadãos votavam  e elegiam seus representantes. Mas o poder político permanecia controlado pelos representantes das elites.

Reação internacional às independências
Praticamente nenhum governo europeu colaborou com os movimentos de independência latino-americanos. Apenas a Inglaterra foi favorável à emancipação das antigas colônias espanholas e do Brasil, com forte interesse em atender os industriais ingleses que defendiam o Liberalismo Econômico na América Latina principalmente por isso abolir os antigos monopólios comerciais das metrópoles europeias.
Os Estados Unidos da América por sua vez, deixava claro desde o início do século XIX a intenção de exercer influência política e econômica sobre as américas. Em 1823 o presidente americano James Monroe anunciou que as forças dos Estados Unidos seriam utilizadas contra qualquer iniciativa europeia para reestabelecer suas antigas colônias na América. Essa postura ficou conhecida como Doutrina Monroe, sendo resumida na frase: “A América para os americanos”. A frase, de algum modo, pode ser associada a uma reafirmação das independências americanas.


San Martín, herói de três países. Conhecido como El Libertador. Representante da elite criolla do sul da América do Sul.

Simón Bolívar, membro da elite criolla das regiões ao norte da América do Sul.

Família de chapetones (nascidos na Espanha). Possuíam uma série de vantagens e privilégios na saciedade colonial.

Família de Criollos (descendentes de espanhóis, mas nascidos nas Américas). Possuíam dinheiro e dominavam a produção agro-pastoril e importantes setores comerciais nas colônias, mas não tinham o mesmo poder e prestígio dos chapetones.

No Haiti a independência veio através de uma revolução realizada por escravos que tiveram contato com os ideais iluministas.

Batalha de São Lorenzo. Uma importante vitória para as tropas comandadas por San Martin. Essa vitória militar ajudaria a tornar possível a independência da região que hoje forma grande parte da Argentina.