sábado, 7 de setembro de 2019

As independências latino-americanas




América Latina

A expressão América Latina é utilizada para se referir a um conjunto de países que apresentam características histórico-culturais em comum. Muitos desses países falam línguas de origem latina, pois foram colônias de Portugal, Espanha ou França.
As colônias da América Latina se libertaram de suas metrópoles, sobretudo, na primeira metade do século XIX. Nesse período, várias condições favoreceram as lutas por independência. Entre elas, a influência das ideias iluministas, a busca por autonomia administrativa e liberdade comercial.

Haiti

Na colônia francesa de São Domingos (atual Haiti) as lutas pela independência foram lideradas por ex-escravizados de origem africana.
No século XVI os espanhóis colonizaram a ilha e a chamaram de Hispaniola. Os espanhóis ocuparam a parte leste da ilha, onde se estabeleceram e escravizaram os indígenas locais. Em 1697 a parte oeste da ilha foi colonizada pela França. A partir deste momento a região que hoje corresponde ao Haiti recebeu o nome francês de Saint Domingue e foi transformada em uma das colônias mais produtivas da América. Lá os franceses instalaram latifúndios de cana-de-açúcar e café, onde utilizavam amplamente o trabalho escravo. Por volta de 1790 viviam na ilha mais de 500.000 pessoas escravizadas e cerca de 56 mil pessoas livres.

     Demografia do Haiti em 1790
População
Números Totais
Porcentagem da
População Total
Brancos
32.000
6%
Negros Livres
24.000
4%
Negros Escravizados
500.000
90%

Independência haitiana
Influenciados pela Revolução Francesa e pelos ideais de liberdade do iluminismo, os escravos passaram a se rebelar e a lutar pela independência de São Domingos.  Devido a forte influência iluminista deste processo histórico, o historiador Cyril L. R. James (1901-1989) se referia aos escravos insurrectos como os “jacobinos Negros”.
O Haiti se tornaria o primeiro país das Américas a abolir a escravidão e o segundo país a se tornar independente embora a França só reconhecesse a independência haitiana em 1825. Os eventos ocorridos no Haiti despertariam o medo das elites europeias nas colônias americanas e seriam vistos como fonte de inspiração para as demais populações escravizadas nas américas.

Independências na América Espanhola

 Durante quase três séculos, a coroa da Espanha dominou uma parte imensa da América. Até o início do século XIX, a administração colonial espanhola organizava esses domínios em quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais.
Os vice-reinados eram: Nova Espanha (1535), Peru (1542), Nova Granada (1718) e Rio da Prata (1776). As capitanias gerais eram: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Este grande império colonial ruiria rapidamente, entre os anos de 1810 e 1828.

A sociedade colonial: Elites e camadas populares
Na América Espanhola, as elites coloniais eram formadas sobretudo pelos grandes proprietários de terras, ricos comerciantes e donos de minas de prata e ouro. Essas elites dividiam-se em dois grupos: os Chapetones (colonizadores nascidos na Espanha) e os Criollos (filhos de espanhóis nascidos na América).
Apesar do poder econômico, os criollos não tinham os mesmos direitos políticos dos chapetones, que ocupavam os principais cargos na administração pública, na igreja e no exército. O poder político dos criollos estava ligado no máximo aos Cabildos (câmaras municipais), com poder de decisão apenas local.
Fora estas divisões, que já geravam muito descontentamento na elite criolla, a interferência do governo da Espanha sobre a vida econômica das colônias americanas também começava a incomodar as elites locais. Assim, muitos criollos, em busca de liberdade econômica e maior poder polítco, tornaram-se importantes líderes das independências.
As camadas populares também lutaram contra o governo espanhol, mas não com os mesmos interesses das elites. De modo geral os indígenas, negros e mestiços estavam submetidos a péssimas condições de vida. Por isso, lutavam por conquistas como igualdade de direitos, distribuição de terras e fim da escravidão. O papel das camadas mais baixas da sociedade foi fundamental para que as independências nacionais fossem alcançadas uma vez que eram estas pessoas que compunham os exércitos revolucionários.

Enfraquecimento do governo espanhol
Em 1807, a Espanha foi invadida por tropas francesas dentro do contexto das Guerras Napoleônicas. O rei espanhol Fernando VII (1784-1833) foi afastado do poder e o trono foi ocupado pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte (1768-1844).
Aproveitando-se desse momento, os colonos da América espanhola formaram Juntas de Governo, em cidades como Buenos Aires, Montevidéu, Caracas, Quito e Santiago, reunindo os representantes das elites locais com o objetivo de lutar por maior liberdade econômica e política.
Com o fim das Guerras Napoleônicas e a restauração de Fernando VII ao poder, o governo de Madri procurou restabelecer sua autoridade sobre as colônias americanas mas passou a enfrentar resistência das elites locais.

Independência nas Américas do Norte e Central
Na América do Norte iniciou-se em 1810 as lutas pela independência do México. Esses conflitos que ocorreriam entre 1810 e 1815 foram lideradas por dois padres, Miguel Hidalgo e José Morelos. Foi um movimento de enorme participação popular que reivindicava pautas objetivamente populares como por exemplo o fim dos impostos pagos pelas populações indígenas. Devido ao seu caráter popular esses movimentos foram combatidos tanto por espanhóis fiéis ao rei quanto pelas elites criollas mexicanas. Após o movimento popular ser esmagado as elites locais, lideradas pelo general Agostinho de Itúrbide passou a lutar contra as forças espanholas obtendo uma série de vitórias militares e obtendo a independência do país em 1821.
As lutas dos mexicanos inspirariam os habitantes da América Central a também buscarem se libertar do domínio espanhol. Os territórios que hoje constituem a Guatemala, Honduras, Costa Rica e El Salvador formariam brevemente um único país após obterem sua liberdade. Entre 1823 e 1839 formou-se entre esses território as Províncias Unidas Centro-Americanas, que se dividiriam nos quatro países citados anteriormente após um período de instabilidade e guerra civil.

Independência na América do Sul
Na América do Sul os mesmos mecanismos e fenômenos já discutidos também ocorreram. Dentro deste contexto duas figuras destacam-se em importância, José de San Martin(1778 – 1850) e Simón Bolivar (1783 – 1830). Ambos são exemplos da elite criolla que se posicionava contra a Espanha neste momento histórico. San Martin nasceu em uma rica família proprietária de terras que mantinha sua fortuna com a criação de gado. Ainda jovem estudou na Espanha onde também iniciou sua carreira militar. Durante as movimentações pela libertação no Vice-Reinado do Prata, San Martin liderou as forças locais contra as tropas espanholas derrotando-as seguidamente e libertando os territórios atuais da Argentina, Chile e Peru.

No norte da América do Sul o processo de independência foi capitaneado por Simón Bolívar. Também pertencente a elite criolla local, Bolívar nasceu em uma rica família ligada ao setor rural da economia venezuelana. Produtores de cacau e donos de escravos, sua família exemplifica com precisão a elite sul americana que passou a contestar o poder espanhol. Educado na Europa a partir dos quinze anos de idade. Lá, entrou em contato com os ideais iluministas que influenciaram a independência dos Estados Unidos e a própria Revolução Francesa. De volta a América engajou-se na luta pela independência venezuelana, recebeu apoio dos ingleses e do governo haitiano e foi fundamental para a derrota espanhola e a libertação da Colômbia e Equador, além da própria Venezuela.

Caudilhismo e autoritarismo

As independências dos países latino-americanos provocaram transformações como a aprovação de medidas ligadas à liberdade de comércio que, em princípio, favoreceram a Inglaterra. Medidas no sentido de abolir a escravidão também foram tomadas.
Depois das independências houve um longo período em que os caudilhos predominaram na administração dos países. Os caudilhos eram chefes políticos e militares. Alguns deles eram líderes populares que assumiam o poder pelo voto; outros conquistavam o poder a força. Todos governavam de forma autoritária. Em certos momentos, havia uma aparência de democracia, em que os cidadãos votavam  e elegiam seus representantes. Mas o poder político permanecia controlado pelos representantes das elites.

Reação internacional às independências
Praticamente nenhum governo europeu colaborou com os movimentos de independência latino-americanos. Apenas a Inglaterra foi favorável à emancipação das antigas colônias espanholas e do Brasil, com forte interesse em atender os industriais ingleses que defendiam o Liberalismo Econômico na América Latina principalmente por isso abolir os antigos monopólios comerciais das metrópoles europeias.
Os Estados Unidos da América por sua vez, deixava claro desde o início do século XIX a intenção de exercer influência política e econômica sobre as américas. Em 1823 o presidente americano James Monroe anunciou que as forças dos Estados Unidos seriam utilizadas contra qualquer iniciativa europeia para reestabelecer suas antigas colônias na América. Essa postura ficou conhecida como Doutrina Monroe, sendo resumida na frase: “A América para os americanos”. A frase, de algum modo, pode ser associada a uma reafirmação das independências americanas.


San Martín, herói de três países. Conhecido como El Libertador. Representante da elite criolla do sul da América do Sul.

Simón Bolívar, membro da elite criolla das regiões ao norte da América do Sul.

Família de chapetones (nascidos na Espanha). Possuíam uma série de vantagens e privilégios na saciedade colonial.

Família de Criollos (descendentes de espanhóis, mas nascidos nas Américas). Possuíam dinheiro e dominavam a produção agro-pastoril e importantes setores comerciais nas colônias, mas não tinham o mesmo poder e prestígio dos chapetones.

No Haiti a independência veio através de uma revolução realizada por escravos que tiveram contato com os ideais iluministas.

Batalha de São Lorenzo. Uma importante vitória para as tropas comandadas por San Martin. Essa vitória militar ajudaria a tornar possível a independência da região que hoje forma grande parte da Argentina.


domingo, 16 de junho de 2019

Parque Nacional Serra da Capivara



Nas Américas, os vestígios mais antigos da presença humana ficam no Brasil. O Parque Nacional da Serra da Capivara, no interior do Piauí, abriga sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, que indicam a presença humana há, pelo menos, 50.000 anos, tendo continuidade até a chegada dos colonizadores brancos. Criado em 1979, ele está localizado no sudeste do Estado, a 530 quilômetros de Teresina, ocupando os municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. Sua superfície é de 129.140 hectares. Em 1991, foi classificado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. 

Identificar sítios arqueológicos e a relevância da pesquisa nesses locais é importante para a construção do conhecimento histórico. "Vê-se nas pinturas rupestres que o Brasil foi povoado há muito tempo e que esses homens pré-históricos tinham uma vida livre, rica, cheia de alegria. Ninguém os dominava, nem eles dominavam ninguém. Cada membro do grupo vivia para sim e para todos e respeitava a natureza porque sabia que dela dependia. Esses registros são um bom ponto de partida para reflexão com os alunos", diz Niède Guidon, diretora da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham). Incentive a turma a pesquisar como os restos materiais encontrados nos sítios permitem reconstituir a vida dos primeiros habitantes do país. Outra possibilidade é colocar em discussão as teorias sobre o processo migratório do homem para as Américas. Conheça, a seguir, alguns dados surpreendentes sobre a Serra da Capivara: 

A região já foi habitat de animais gigantes 

A megafauna fóssil do parque nacional inclui mais de 30 espécies, das quais as maiores (uma preguiça gigante e um mastodonte) pesavam mais de 5 toneladas. A extinção desses bichos ocorreu há aproximadamente 10.000 anos, no fim do período chamado Pleistoceno (o que corresponde na América do Norte e na Europa ao fim da época glacial), com a conseguinte mudança climática global. Há investigadores que também creem que seus desaparecimentos foram causados pelo homem. A fauna atual conta com menos de 20 espécies, sendo que a maior delas – a onça – não supera os 120 kg. 

Já foram encontrados mais de 1300 sítios, que incluem artefatos e pinturas rupestres

Entre os achados mais significativos, podemos enumerar as escavações do sítio da Toca do Boqueirão da Pedra Furada, iniciadas em 1978 e concluídas em 1988, que permitiram a descoberta dos mais antigos vestígios, até hoje conhecidos, da presença humana nas Américas: fogueiras estruturadas e uma grande quantidade de artefatos de pedra lascada. Já no Sítio do Meio, encontramos fragmentos da cerâmica mais antiga das Américas, datada de 8.960 anos, o primeiro artefato americano de pedra polida, uma machadinha datada de 9.200 anos. Outro sítio, o da Toca do Caldeirão dos Rodrigues, abriga pinturas, escondidas atrás de um imenso bloco caído, que retratam cerca de 12.000 anos de evolução cultural. As escavações, ainda não terminadas, já permitiram encontrar vestígios da presença humana de 18.000 anos. Em uma escavação feita entre 1978 e 1988 pela arqueóloga Niède, foram achadas centenas de pedras lascadas, estruturas que corresponderiam a antigas fogueiras e carvões. Datadas pela técnica do carbono 14 – pela qual se calcula a idade de materiais orgânicos pela quantidade residual de átomos radioativos de carbono, o carbono 14 –, as amostras foram estimadas em entre seis e 48 mil anos de idade. Durante quatro anos, de 1987 a 1990, o arqueólogo italiano Fabio Parenti buscou comprovar a veracidade da origem dos seixos. A conclusão foi que ali havia seixos em que a forma de lascamento evidenciava uma intenção, um modo de pensar - considerando não apenas uma origem humana para eles, mas também propondo que o homem esteve no local por dezenas de milhares de anos, de forma quase contínua. 

Os achados colocam as teorias sobre o processo migratório para as Américas em xeque 

A teoria arqueológica aceita há mais de meio século defende que o homem teria chegado ao continente americano apenas entre 12 a 15 mil anos atrás – saindo da Ásia e atravessando a pé o Estreito de Bering. Segundo Niède, as evidências encontradas na Serra da Capivara não invalidam a teoria da migração humana por meio de Bering, mas sugerem que o continente americano, com uma extensão de milhares de quilômetros, possa ter sido colonizado por mais de uma via. "Na ciência, toda teoria está sujeita a ser substituída. A de Bering é dos anos 50 e as nossas descobertas, assim como outras no México, no Chile, no Uruguai e inclusive nos Estados Unidos, vem demonstrando que ela está ultrapassada", diz ela. A hipótese mais provável sustentada pela pesquisa é a de que provavelmente pescadores, teriam vindo da África, arrastados pelas correntes e chegaram a América do Sul, empurrados pelos ventos alísios. Análises morfológicas dos crânios encontrados na zona da Serra da Capivara feitas por pesquisadores da USP chegaram à conclusão de que pertenciam ao tipo humano australóide-negróide e não ao tipo humano asiático. 

As descobertas ainda são contestadas por grupos de pesquisadores

O cerne da polêmica está na ausência de fragmentos humanos que comprovem a teoria: a data foi fixada com base em restos de fogueiras. Niède argumenta que o solo da região é ácido – o que impede a preservação dos restos ósseos mais antigos. No entanto, por se tratarem de fogueiras em zonas pequenas e delimitadas, as evidências apontam para fogos causados e controlados pelo homem. As pedras trabalhadas ao redor das fogueiras ajudam a reforçar a tese.




 O Parque Nacional Serra da Capivara, no estado brasileiro do Piauí é um dos mais importantes do mundo em termos de arqueologia Pré-histórica






Entre as culturas Pré-históricas, os desenhos, símbolos e caracteres rupestres eram a mais importante forma de comunicação e são hoje uma janela para o passado. Uma das principais formas de interpretarmos o pensamento, a visão de mundo e o dia a dia das populações pré-históricas 



A Dra. Niède Guidon iniciou ainda na década de 60 seu trabalho com a Serra da Capivara ao entrar em contato com as pinturas rupestres presentes no local. Na década de 70 iniciou a criação do Parque Nacional. A Dra. Guidon é uma referencia mundial em Pré-história






Referência

https://novaescola.org.br/conteudo/1292/4-curiosidades-sobre-a-serra-da-capivara
<Acessado em 16/06/2019>

sábado, 15 de junho de 2019

Douradas Gerais - Sociedade, cultura e revolta em Minas Gerais no século XVIII




A região de Minas Gerais ainda hoje possui enormes reservas minerais em seu subsolo, produto final dos processos geológicos em curso desde a formação do planeta a milhões de anos e que ainda despertam o interesse econômico, não raro gerando efeitos devastadores para a natureza e sociedades locais. Durante o período pré-histórico a região já era ocupada por diversos povos como atestam os sítios arqueológicos de Lagoa Santa, Lapa Vermelha, Lapa do Santo entre dezenas de outros. Subsistiam da caça, da pesca, da coleta de vegetais silvestres e praticavam algumas formas primitivas de agricultura, organizando-se ainda em sociedades complexas com divisão de tarefas, crenças religiosas e expressões artísticas próprias. 

Posteriormente a região seria ocupada por grupos indígenas pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê, e com a expansão urbana em outras áreas do país, já durante o período colonial, iniciaram-se ondas migratórias indígenas para a região, onde destaca-se a chegada por exemplo dos índios Botocudos, que ali se instalaram buscando fugir do contato com os portugueses, mais próximos do litoral. 

No final do século XVII, em meio a crise da economia açucareira no nordeste do Brasil colonial, o governo português passa a incentivar a busca pelo ouro no interior no território, colhendo os frutos deste esforço em 1697 com a descoberta de "dezoito a vinte ribeiros de ouro da melhor qualidade", conforme anunciou o então governador do Rio de Janeiro, Castro Caldas. Com a divulgação da descoberta a região passaria a receber um fluxo constante e enorme de imigrantes provenientes de todas as regiões da colônia brasileira, de outros territórios coloniais portugueses, inclusive de Portugal. Pessoas que acorriam para a região alimentando o sonho do enriquecimento fácil e rápido. 

Os recursos naturais e principalmente o ouro e os diamantes de Minas Gerais estavam sendo explorados vorazmente pelos grupos de bandeirantes que os haviam descoberto, no entanto com a chegada de centenas de pessoas provenientes de outras regiões os bandeirantes paulista se veem rapidamente em desvantagem numérica e a tensão cresce rapidamente entre os dois grupos que passam a recorrer a violência para resolver suas disputas sobre os pontos de mineração. O episódio ficaria conhecido como a “Guerra dos emboabas”, sendo emboaba o nome de um pássaro de pernas finas e emplumadas que os paulistas, para ridicularizar os portugueses passam a os chamar, devido as suas vestimentas mais sofisticadas. A chamada Guerra dos emboabas termina com o massacre de dezenas de paulistas e sua expulsão da área de Minas Gerais. O episódio deixou o governo português em alerta, e o fez ver a necessidade de organizar o processo de exploração do ouro e de levar à região uma infraestrutura jurídica para que os constantes conflitos sobre posse de terras, riquezas e direitos de exploração passassem a ser resolvidos através das vias legais.

Após os conflitos iniciais a região rapidamente se urbaniza, surgindo dezenas de vilas e cidades. Para atender as necessidades da população local passam a atuar na região mercadores, artesãos, taberneiros, boticários, cirurgiões-barbeiros, tropeiros etc... Cria-se uma espécie de classe média na sociedade local, composta em grande medida por estes profissionais. 

Cidades como Diamantina, Ouro Preto, Congonhas, Brumadinho, Serro, Mariana e Sabará, apenas para citar algumas parecem surgir do dia para a noite. Nelas a cultura típica mineira começa a tomar forma, na vida e no trabalho de milhares de seus habitantes. Em todas elas a presença da coroa portuguesa através de seus funcionário públicos, mineralogistas, juízes, militares e fiscais é constante. De todo o império português no século XVIII a região aurífera de Minas Gerais é, indiscutivelmente, a mais importante. Nela, estrangeiros são proibidos de entrar, e todos que saem ou entram nas cidades precisam se apresentar as autoridades. O controle é rígido.

Até a década de 1760 aproximadamente, a região viveria seu período de apogeu e glória, com igrejas recebendo adornos em ouro, desenvolvimento em infraestrutura, principalmente em estradas e organização social. 

Afim de ligar todas as cidades da região com os portos do litoral, em especial os de Paraty, Rio de Janeiro e Santos, para que a riqueza seja escoada para Portugal, são criadas uma série de “estradas reais”. Estas estradas, cruzando toda a região de Minas Gerais, possui em sua totalidade 1.630 quilômetros de extensão e foram abertas e mantidas através da exploração da mão de obra escrava. Por elas, ao longo de todo o século XVIII, transitavam os próprios escravos, que trabalhavam em sua abertura ou manutenção, tropeiros, conduzindo “tropas” de animais de carga desde o Rio Grande do Sul ou São Paulo, levando a região alimentos, remédios, ferramentas, roupas e inúmeros outros artigos que seriam vendidos nas cidades mineiras. Destacamentos militares, enviados das cidades do litoral ou mesmo de Portugal para manter a ordem e a fiscalização na área e principalmente o ouro, prata e diamantes minerados no interior a caminho dos portos do litoral. Ao todo, a Estrada Real subdivide-se em quatro principais caminhos sendo eles o Caminho Novo, Caminho velho, Caminho dos diamantes e Caminho Sabarabuçu.

Sistema Tributário


Afim de garantir sua parcela de lucros com a exploração do ouro e demais minerais e gemas preciosas na  área de Minas Gerais, Lisboa passa a organizar um sistema tributário onde destacam-se dois impostos principais cobrados à população local, o quinto e a capitação.

O quinto recebia este nome por incidir sobre o quinto da produção total, no caso de Minas Gerais, da extração de ouro e pedras preciosas. Os minérios extraídos eram encaminhados as Casas de Fundição, onde eram derretidos, separava-se a quinta parte, registrava-se o selo oficial do governo real português nas barras, provando assim que haviam passado pela casa de fundição e haviam sido portanto oneradas pelo quinto.

Outro tributo era a capitação. Este era cobrado sobre a quantidade de escravos que determinada companhia, empresa ou individuo possuía e empregava no trabalho de mineração. O raciocínio do governo português era de que quanto mais escravos se possuísse empregados no trabalho de mineração, mais riquezas seriam extraídas e portanto maior deveria ser os impostos cobrados.

A partir da década de 70 do século XVIII a produção aurífera começa a diminuir devido a dificuldade crescente de se extrair ouro, que começava a escassear. Em face a essa situação, a coroa portuguesa institui a Derrama, uma taxação extra, cobrada anualmente das vilas e cidades mineiras que não conseguissem cumprir a cota de cem arrobas de ouro ao longo do ano. As comunidades que falhassem em arrecadar a quantia necessária seriam tachadas pela derrama, onde os soldados do rei invadiam as casas e fazendas de particulares e confiscavam quaisquer objetos de valor que julgassem necessário para cobrir a diferença entre o que foi extraído de ouro ao longo do ano e as cem arrobas determinadas pelo rei. Extremamente impopular, a derrama seria um dos principais motores das revoltas regionais em especial a Inconfidência.

Inconfidência Mineira


A população das cidades mineiras, revoltada com a cobrança de impostos em especial a Derrama, influenciados também pelos ideais de liberdade trazidos pelo iluminismo francês e observando os ressentes acontecimentos mundiais, em especial a independência dos EUA na América do Norte passaram a buscar formas de resistir ao controle português. Um grupo de habitantes locais, formado majoritariamente por membros da classe média mineira dentre eles poetas, comerciantes, militares e profissionais liberais passaram a imaginar formas de transformar a situação na qual viviam. Em pouco tempo, seus planos se encaminharam para as ideias de independência e criação de uma nova republica na região.


Os planos dos inconfidentes


Inconfidente quer dizer “aquele que trai a confiança”. Este termo foi cunhado tempos depois do ocorrido em Minas Gerais e atribuído aos conspiradores contrários aos mandos da coroa portuguesa. Em sua maioria, eram membros da chamada “elite mineira letrada”, os que tinham certo poder aquisitivo e certo acesso a determinadas informações.

Entre os conspiradores destacavam-se os poetas Cláudio Manoel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto, o ex-funcionário público Tomás Antônio Gonzaga, os padres Oliveira Rolim e Carlos Correia de Toledo, o filósofo Álvares Maciel e os militares Francisco de Paula Freire de Andrade (tenente-coronel), Domingos de Abreu Vieira e Joaquim José dos Reis (coronéis), Toledo Pisa (sargento) e o alferes Joaquim José da Silva Xavier.
Os planos eram:


  • Fundar em Minas Gerais um governo republicano independente de Portugal;
  • Construir e manter uma universidade em Vila Rica, além de hospitais e escolas;
  • Permitir e incentivar a implantação de manufaturas no Brasil, proibidas na colônia por decreto real;
  • Transformar São João del Rei na capital do novo país. Tomás Antonio Gonzaga seria o primeiro presidente da República, e eleições para a escolha do novo presidente seriam marcada três anos após a posse.
O movimento revolucionário estava marcado para acontecer no mesmo dia da derrama, e os conspiradores seriam avisados nas vésperas com a senha “Dia tal é o batizado”  onde “tal”, claro, era o dia da derrama.

Os planos não foram à frente pois a derrama, exigida pela Coroa, teve sua ordem suspensa no dia 14 de março de 1789 pelo governador de Minas Gerais, Luis Antônio de Mendonça (o Visconde de Barbacena) e o grupo conspirador foi denunciado no dia 15 de março por Joaquim Silvério dos Reis, Basílio de Brito e Inácio Correia de Pamplona, em troca do fim de suas dívidas para com a Coroa portuguesa.

Joaquim Silvério dos Reis ainda foi mandado ao Rio de Janeiro, onde Tiradentes estava em uma viagem, a fim de encontrá-lo e entregá-lo ao vice-rei Luis de Vasconcelos e Souza. Preso em 10 de maio de 1789, Tiradentes inicialmente negou a participação na conspiração, mas posteriormente assumiu toda a culpa pela “inconfidência”, tentando evitar a condenação dos companheiros, capturados nos dias posteriores à sua prisão.


A sentença dos inconfidentes


Todos os envolvidos — à exceção dos três elementos citados anteriormente que denunciaram a conspiração — foram condenados por crimes de lesa-majestade, definidas como “traição ao Rei”.

Cláudio Manoel da Costa enforcou-se na prisão de Vila Rica, outros presos foram condenados à morte e ao degredo. Mais tarde, por clemência de D. Maria I, todas as sentenças mudaram para o degredo e os presos foram mandados para a África. Apenas Tiradentes foi condenado à forca e sua sentença mantida.

Arte em Minas Gerais


Durante o chamado ciclo do ouro o rápido desenvolvimento urbano da região, somado ao surgimento de uma robusta classe média e a enorme riqueza extraída da região possibilitou o surgimento de uma cultura artística típica e inconfundível, o barroco mineiro. Influenciados tanto pelo barroco europeu, em voga neste momento histórico, quanto pela mistura racial típica do Brasil, os artistas da região promoveriam o surgimento de uma vertente verdadeiramente única do movimento barroco que ficaria conhecido como barroco mineiro.

Nas artes plásticas destacam-se o trabalho do Mestre Ataíde e de Aleijadinho. O primeiro, pintor, trabalhou principalmente com a arte sacra, decorando o interior de igrejas, mosteiros, conventos e catedrais. Habilidoso no emprego de luzes e tons diferenciados bem como na criação de perspectivas de espaço. Aleijadinho por sua vez trabalhou junto com Ataíde em uma diversidade de igrejas, esculpindo estátuas, painéis, lavatórios, pias batismais, altares entre outras coisas. Suas representações de anjos e dos apóstolos são consideradas obras importantíssimas não apenas pela qualidade técnica mas também por representar tais personagens com traços tipicamente brasileiros.

Em termos de música o predomínio era das obras sacras, para serem executadas em festividades religiosas e missas. A musicalidade popular também estava presente em cantigas e músicas de festa, bem como a sonoridade típica das culturas africanas que ali se encontravam devido a migração forçada da escravidão.

Ainda dentro do universo cultural do barroco mineiro destacam-se a poesia, as danças e demais expressões culturais populares, incluindo a culinária, símbolo da região até os dias de hoje.

Conclusão


Colonial O apogeu da mineração no Brasil Colonial ocorreu na primeira metade do século XVIII, alcançado seu ponto máximo em torno de 1760. O ouro provocou grandes transformações na colônia contribuindo para o povoamento do interior e o crescimento demográfico do Brasil. Levou à fundação de numerosas vilas e cidades e, com elas, a proliferação de profissionais das mais diversas áreas que passaram a formar um núcleo urbano de classe média, possivelmente o primeiro na sociedade colonial brasileira. O ouro permitiu construir igrejas imponentes e revestiu seus altares e tetos. Mas enriqueceu poucos. A riqueza acabou se acumulando de fato nas mãos dos comerciantes, locais e forasteiros. A pobreza marcou a sociedade mineradora como bem analisou Laura de Mello e Souza. Esgotadas as minas, o declínio foi relativamente rápido e, em 1780, a renda da mineração era menos da metade do que fora no auge. A queda da extração aurífera, contudo, não acarretou uma decadência econômica, como afirmava a visão tradicional. A economia mineira, a partir da segunda metade do século XVIII, diversificou-se com a produção de alimentos, atividades artesanais e um vigoroso comércio.





As cidades mineiras conservam a arquitetura colonial do século XVIII


Pelos caminhos da Estrada Real circulava boa parte da riqueza do império português


O barroco mineiro pode ser encontrado nas igrejas, muitas delas ornamentadas com obras do mestre Aleijadinho

A pintura em perspectiva do teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, é um exemplo da genialidade do mestre Ataíde, pintor que trabalhou com Aleijadinho em diversos projetos. 



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Conflito árabe-israelense. A questão palestina



Com o fim da Guerra Fria e o início de um novo século imaginava-se que o surgimento de conflitos armados entre países ou povos seriam cada vez mais raros, sendo as divergências entre as nações tratadas pela ONU. O fim das disputas ideológicas e do financiamento de grupos armados ao redor do mundo pelas superpotências concorrentes, bem como a hegemonia econômica e militar dos Estados Unidos corroboravam para tal visão excessivamente otimista a respeito do século que se avizinhava. 


No entanto a realidade que se impôs foi a de um mundo multipolar, no qual a ONU se mostrou incapaz de conter as agressões sejam elas provenientes de países periféricos ou centrais, como ficou claro com a invasão norte americana ao Iraque em 2003. 


Dentro deste cenário antigos conflitos regionais continuaram a ocorrer sendo um deles o conflito árabe – israelense, principalmente no que tange as questões relativas a autonomia política da região da Palestina. 


Como o conflito começou? 



O movimento sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, ganhou força no início do século 20, em reação ao antissemitismo sofrido por eles na Europa. 


A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. As aspirações sionistas deram início a um forte movimento migratório judaico, que gerou resistência entre as comunidades locais. 


Após a desintegração do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações, órgão internacional antecessor da Organização das Nações Unidas (ONU), para administrar o território da Palestina. 


Antes e durante a guerra, contudo, os britânicos fizeram, tanto aos árabes quanto aos judeus, uma série de promessas que não se cumpririam - entre outras razões, porque o Reino Unido já havia repartido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre os dois lados que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes. 


Após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, aumentou a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. O plano original previa a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e palestinos. 

Após a fundação de Israel, em 14 de maio de 1948, a tensão deixou de ser local para se tornar uma questão regional. No dia seguinte, Egito, Jordânia, Síria, Iraque e Líbano invadiram o território. Foi a primeira guerra árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como a guerra de independência ou de libertação. Depois da guerra, vencida pelos israelenses, o território originalmente planejado pela ONU para um Estado árabe foi reduzido pela metade. 


Mas 1948 era apenas o início do longo confronto entre os dois povos. Em 1956, Israel enfrentou o Egito em uma crise motivada pelo Canal de Suez, conflito que foi definido fora do campo de batalha, com a confirmação pela ONU da soberania egípcia sobre a passagem naval, após forte pressão internacional sobre Israel, França e Grã-Bretanha. 


Em 1967, veio a batalha que mudaria definitivamente o cenário na região: a Guerra dos Seis Dias. Iniciada por ofensivas de Egito e Síria, a disputa terminou com vitória esmagadora de Israel sobre uma coalizão árabe. Após o conflito, Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, no Egito, tomou o controle da Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) da Jordânia e das Colinas de Golã da Síria. Meio milhão de palestinos fugiram. 

Israel e seus vizinhos voltaram a se enfrentar em 1973. A Guerra do Yom Kippur colocou novamente Egito e Síria contra Israel, numa tentativa dos árabes de recuperar os territórios ocupados em 1967. Em 1979, o Egito se tornou o primeiro país árabe a chegar à paz com Israel, que desocupou a Península do Sinai. A Jordânia chegaria a um acordo de paz em 1994. 

Em 1987, teve início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense, a intifada. A violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a assinatura, entre a OLP (Organização para Libertação da Palestina) e Israel em 1993, dos Acordos de Paz de Oslo, nos quais a organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de Israel "de existir em paz e segurança", algo que grupos mais radicais dentro da Palestina, como o Hamas, nunca aceitaram. 


Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele, por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades civis e de segurança controlam áreas urbanas (a chamada "zona A"). Somente representantes civis - e não militares - governam áreas rurais ("zonas B"). 


Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica pelos palestinos, não está incluída nesse acordo e é uma das questões mais polêmicas entre as partes. 


Em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, quando teve início a segunda intifada palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito permanentes. 

Quais são os principais pontos de conflito? 




A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e o bloqueio de Israel a Gaza, condenado pelo Tribunal Internacional de Haia, complicam o andamento de um processo de paz. 


Mas esses não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então presidente americano Bill Clinton não conseguiu mediar um acordo entre Yasser Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak


As diferenças que parecem irreconciliáveis são: 
  • Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira e afirma que a cidade é sua capital "eterna e indivisível", após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital. 
  • Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria Jerusalém Oriental, algo rejeitado por Israel. 
  • Assentamentos: ilegais sob a lei internacional, foram construídos pelo governo israelense nos territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, há mais de meio milhão de colonos judeus. 
  • Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com a OLP, dos quais cerca de metade são registrados na ONU) têm o direito de voltar ao que é hoje Israel. Mas, para o governo israelense, permitir seu retorno destruiria sua identidade como um Estado judeu. 

O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura? 



Israelenses teriam de aceitar a criação de um Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas três áreas que formariam o Estado palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. 


Grupos palestinos precisariam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel. Além disso, teriam de chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, assentamentos e o retorno de refugiados. 


No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram, especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e israelenses. Para Israel, esses são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967. 


Além disso, enquanto no campo militar a tensão é constante na Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de assentamentos israelenses, o que reduz, na prática, o território palestino nestas áreas. 


Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém. Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o Hamas, em Gaza, reivindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel tê-la ocupado em 1967. 


Consequências e perspectivas futuras.



Enquanto isso, cerca de meio milhão de palestinos continuam sem um Estado que os represente e assegure seus direitos enquanto seres humanos, sendo que centenas de milhares de palestinos, expulsos de seus lares a gerações devido aos conflitos com Israel continuam vivendo em condições sub-humanas em países árabes vizinhos. Esta população permanentemente deslocada de sua terra natal, vivendo em situações de extrema pobreza e constantemente humilhada pela lembrança e pelas consequências das derrotas sofridas no passado são uma fonte constante de recrutamento e doutrinação por parte de grupos islâmicos radicais que oferecem a essas pessoas desesperadas uma alternativa de vida, mesmo que muitas vezes violenta e breve. 

A solução, como demonstrado acima, seria a criação definitiva de um Estado árabe palestino. Para tanto seria necessário fazer uma série de concessões territoriais aos árabes, algo que até o momento nenhum governante israelense conseguiu fazer de forma satisfatória devido a enorme influencia que os grupos mais ortodoxos da política israelense exercem sobre a dinâmica política daquele país. Recentemente o projeto de criação de um Estado palestino se tornou ainda mais distante com o anuncio do presidente americano Donald Trump de que os Estados Unidos irão reconhecer Jerusalém como a capital legitima de Israel e inclusive mover sua embaixada da cidade de Tel Aviv para Jerusalém. O peso desta decisão praticamente sepulta o sonho de criação do Estado Palestino, visto que tal Estado, caso seja criado, teria como sua capital uma parte da cidade de Jerusalém.


Progressão do domínio israelense sobre a região desde a criação pela ONU do Estado de Israel em 1946.
Soldados árabes se rendem a militares israelenses durante a Guerra dos Seis Dias.
Judeus celebram o Yom Kippur em Jerusalém. O Yom Kippur é um feriado religioso hebreu e em 1973 os países árabes atacaram Israel durante a celebração deste feriado buscando surpreende-los.
Campo de palestinos expulsos de suas terras após a guerra de 1948. A foto foi feita em 1952 e muitas das famílias palestina deslocadas para este campo de refugiados permanece lá ainda hoje.
Campo de refugiados palestinos nos arredores de Damasco, Síria. 
Yasser Arafat. Líder da OLP (Organização para Libertação da Palestina). Arafat foi um líder palestino respeitado internacionalmente.
Desfile de tropas do Hamas. O Hamas é um grupo político-militar radical que controla partes da Palestina e luta pela independência de seu país. 

A baixo, dois videos do canal Nerdologia de História sobre a questão árabe-israelense:

De quem é Jerusalém?





Guerra dos Seis Dias






Referências

Site da BBC

<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42268607> Acessado em 22/10/2018

Canal do Youtube: Nerdologia de História
<https://www.youtube.com/watch?v=ptTZKSpZn14> Acessado em 22/10/2018
<https://www.youtube.com/watch?v=mDCS9hFLbQ0&t=313s> Acessado em 22/10/2018