América Latina
A expressão América Latina é
utilizada para se referir a um conjunto de países que apresentam características
histórico-culturais em comum. Muitos desses países falam línguas de origem
latina, pois foram colônias de Portugal, Espanha ou França.
As colônias da América Latina se
libertaram de suas metrópoles, sobretudo, na primeira metade do século XIX.
Nesse período, várias condições favoreceram as lutas por independência. Entre
elas, a influência das ideias iluministas, a busca por autonomia administrativa
e liberdade comercial.
Haiti
Na colônia francesa de São
Domingos (atual Haiti) as lutas pela independência foram lideradas por
ex-escravizados de origem africana.
No século XVI os espanhóis
colonizaram a ilha e a chamaram de Hispaniola.
Os espanhóis ocuparam a parte leste da ilha, onde se estabeleceram e
escravizaram os indígenas locais. Em 1697 a parte oeste da ilha foi colonizada
pela França. A partir deste momento a região que hoje corresponde ao Haiti
recebeu o nome francês de Saint Domingue
e foi transformada em uma das colônias mais produtivas da América. Lá os
franceses instalaram latifúndios de cana-de-açúcar e café, onde utilizavam
amplamente o trabalho escravo. Por volta de 1790 viviam na ilha mais de 500.000
pessoas escravizadas e cerca de 56 mil pessoas livres.
Demografia do Haiti em 1790
População
|
Números
Totais
|
Porcentagem
da
População
Total
|
Brancos
|
32.000
|
6%
|
Negros Livres
|
24.000
|
4%
|
Negros Escravizados
|
500.000
|
90%
|
Independência haitiana
Influenciados pela Revolução
Francesa e pelos ideais de liberdade do iluminismo, os escravos passaram a se
rebelar e a lutar pela independência de São Domingos. Devido a forte influência iluminista deste
processo histórico, o historiador Cyril L. R. James (1901-1989) se referia aos
escravos insurrectos como os “jacobinos Negros”.
O Haiti se tornaria o primeiro
país das Américas a abolir a escravidão e o segundo país a se tornar
independente embora a França só reconhecesse a independência haitiana em 1825.
Os eventos ocorridos no Haiti despertariam o medo das elites europeias nas
colônias americanas e seriam vistos como fonte de inspiração para as demais
populações escravizadas nas américas.
Independências na América Espanhola
Durante quase três séculos, a coroa da Espanha
dominou uma parte imensa da América. Até o início do século XIX, a
administração colonial espanhola organizava esses domínios em quatro
vice-reinados e quatro capitanias gerais.
Os vice-reinados eram: Nova
Espanha (1535), Peru (1542), Nova Granada (1718) e Rio da Prata (1776). As
capitanias gerais eram: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Este grande império colonial
ruiria rapidamente, entre os anos de 1810 e 1828.
A sociedade colonial: Elites e camadas populares
Na América Espanhola, as elites
coloniais eram formadas sobretudo pelos grandes proprietários de terras, ricos
comerciantes e donos de minas de prata e ouro. Essas elites dividiam-se em dois
grupos: os Chapetones (colonizadores
nascidos na Espanha) e os Criollos (filhos
de espanhóis nascidos na América).
Apesar do poder econômico, os
criollos não tinham os mesmos direitos políticos dos chapetones, que ocupavam
os principais cargos na administração pública, na igreja e no exército. O poder
político dos criollos estava ligado no máximo aos Cabildos (câmaras municipais), com poder de decisão apenas local.
Fora estas divisões, que já
geravam muito descontentamento na elite criolla, a interferência do governo da
Espanha sobre a vida econômica das colônias americanas também começava a
incomodar as elites locais. Assim, muitos criollos, em busca de liberdade
econômica e maior poder polítco, tornaram-se importantes líderes das
independências.
As camadas populares também
lutaram contra o governo espanhol, mas não com os mesmos interesses das elites.
De modo geral os indígenas, negros e mestiços estavam submetidos a péssimas
condições de vida. Por isso, lutavam por conquistas como igualdade de direitos,
distribuição de terras e fim da escravidão. O papel das camadas mais baixas da
sociedade foi fundamental para que as independências nacionais fossem
alcançadas uma vez que eram estas pessoas que compunham os exércitos
revolucionários.
Enfraquecimento do governo espanhol
Em 1807, a Espanha foi invadida
por tropas francesas dentro do contexto das Guerras Napoleônicas. O rei
espanhol Fernando VII (1784-1833) foi afastado do poder e o trono foi ocupado
pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte (1768-1844).
Aproveitando-se desse momento, os
colonos da América espanhola formaram
Juntas de Governo, em cidades como Buenos Aires, Montevidéu, Caracas, Quito
e Santiago, reunindo os representantes das elites locais com o objetivo de
lutar por maior liberdade econômica e política.
Com o fim das Guerras
Napoleônicas e a restauração de Fernando VII ao poder, o governo de Madri
procurou restabelecer sua autoridade sobre as colônias americanas mas passou a
enfrentar resistência das elites locais.
Independência nas Américas do Norte e Central
Na América do Norte iniciou-se em
1810 as lutas pela independência do México. Esses conflitos que ocorreriam
entre 1810 e 1815 foram lideradas por dois padres, Miguel Hidalgo e José
Morelos. Foi um movimento de enorme participação popular que reivindicava
pautas objetivamente populares como por exemplo o fim dos impostos pagos pelas
populações indígenas. Devido ao seu caráter popular esses movimentos foram
combatidos tanto por espanhóis fiéis ao rei quanto pelas elites criollas
mexicanas. Após o movimento popular ser esmagado as elites locais, lideradas
pelo general Agostinho de Itúrbide passou a lutar contra as forças espanholas
obtendo uma série de vitórias militares e obtendo a independência do país em
1821.
As lutas dos mexicanos
inspirariam os habitantes da América Central a também buscarem se libertar do
domínio espanhol. Os territórios que hoje constituem a Guatemala, Honduras,
Costa Rica e El Salvador formariam brevemente um único país após obterem sua
liberdade. Entre 1823 e 1839 formou-se entre esses território as Províncias Unidas
Centro-Americanas, que se dividiriam nos quatro países citados anteriormente
após um período de instabilidade e guerra civil.
Independência na América do Sul
Na América do Sul os mesmos
mecanismos e fenômenos já discutidos também ocorreram. Dentro deste contexto
duas figuras destacam-se em importância, José de San Martin(1778 – 1850) e
Simón Bolivar (1783 – 1830). Ambos são exemplos da elite criolla que se
posicionava contra a Espanha neste momento histórico. San Martin nasceu em uma
rica família proprietária de terras que mantinha sua fortuna com a criação de
gado. Ainda jovem estudou na Espanha onde também iniciou sua carreira militar.
Durante as movimentações pela libertação no Vice-Reinado do Prata, San Martin
liderou as forças locais contra as tropas espanholas derrotando-as seguidamente
e libertando os territórios atuais da Argentina, Chile e Peru.
No norte da América do Sul o
processo de independência foi capitaneado por Simón Bolívar. Também pertencente
a elite criolla local, Bolívar nasceu em uma rica família ligada ao setor rural
da economia venezuelana. Produtores de cacau e donos de escravos, sua família
exemplifica com precisão a elite sul americana que passou a contestar o poder
espanhol. Educado na Europa a partir dos quinze anos de idade. Lá, entrou em
contato com os ideais iluministas que influenciaram a independência dos Estados
Unidos e a própria Revolução Francesa. De volta a América engajou-se na luta
pela independência venezuelana, recebeu apoio dos ingleses e do governo
haitiano e foi fundamental para a derrota espanhola e a libertação da Colômbia
e Equador, além da própria Venezuela.
Caudilhismo e autoritarismo
As independências dos países
latino-americanos provocaram transformações como a aprovação de medidas ligadas
à liberdade de comércio que, em princípio, favoreceram a Inglaterra. Medidas no
sentido de abolir a escravidão também foram tomadas.
Depois das independências houve
um longo período em que os caudilhos predominaram na administração dos países.
Os caudilhos eram chefes políticos e militares. Alguns deles eram líderes
populares que assumiam o poder pelo voto; outros conquistavam o poder a força.
Todos governavam de forma autoritária. Em certos momentos, havia uma aparência
de democracia, em que os cidadãos votavam
e elegiam seus representantes. Mas o poder político permanecia
controlado pelos representantes das elites.
Reação internacional às independências
Praticamente nenhum governo
europeu colaborou com os movimentos de independência latino-americanos. Apenas
a Inglaterra foi favorável à emancipação das antigas colônias espanholas e do
Brasil, com forte interesse em atender os industriais ingleses que defendiam o
Liberalismo Econômico na América Latina principalmente por isso abolir os
antigos monopólios comerciais das metrópoles europeias.
Os Estados Unidos da América por
sua vez, deixava claro desde o início do século XIX a intenção de exercer
influência política e econômica sobre as américas. Em 1823 o presidente
americano James Monroe anunciou que as forças dos Estados Unidos seriam
utilizadas contra qualquer iniciativa europeia para reestabelecer suas antigas
colônias na América. Essa postura ficou conhecida como Doutrina Monroe, sendo
resumida na frase: “A América para os americanos”. A frase, de algum modo, pode
ser associada a uma reafirmação das independências americanas.
San Martín, herói de três países. Conhecido como El Libertador. Representante da elite criolla do sul da América do Sul. |
Simón Bolívar, membro da elite criolla das regiões ao norte da América do Sul. |
Família de chapetones (nascidos na Espanha). Possuíam uma série de vantagens e privilégios na saciedade colonial. |
No Haiti a independência veio através de uma revolução realizada por escravos que tiveram contato com os ideais iluministas. |