A região de Minas Gerais
ainda hoje possui enormes reservas minerais em seu subsolo, produto final dos
processos geológicos em curso desde a formação do planeta a milhões de anos e
que ainda despertam o interesse econômico, não raro gerando efeitos devastadores
para a natureza e sociedades locais. Durante o período pré-histórico a região
já era ocupada por diversos povos como atestam os sítios arqueológicos de Lagoa
Santa, Lapa Vermelha, Lapa do Santo entre dezenas de outros. Subsistiam da
caça, da pesca, da coleta de vegetais silvestres e praticavam algumas formas
primitivas de agricultura, organizando-se ainda em sociedades complexas com
divisão de tarefas, crenças religiosas e expressões artísticas próprias.
Posteriormente a região
seria ocupada por grupos indígenas pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê,
e com a expansão urbana em outras áreas do país, já durante o período colonial,
iniciaram-se ondas migratórias indígenas para a região, onde destaca-se a
chegada por exemplo dos índios Botocudos, que ali se instalaram buscando fugir
do contato com os portugueses, mais próximos do litoral.
No final do século XVII, em
meio a crise da economia açucareira no nordeste do Brasil colonial, o governo
português passa a incentivar a busca pelo ouro no interior no território,
colhendo os frutos deste esforço em 1697 com a descoberta de "dezoito a
vinte ribeiros de
ouro da melhor qualidade", conforme anunciou o então governador do Rio de Janeiro, Castro Caldas. Com a
divulgação da descoberta a região passaria a receber um fluxo constante e
enorme de imigrantes provenientes de todas as regiões da colônia brasileira, de
outros territórios coloniais portugueses, inclusive de Portugal. Pessoas que
acorriam para a região alimentando o sonho do enriquecimento fácil e
rápido.
Os recursos naturais e
principalmente o ouro e os diamantes de Minas Gerais estavam sendo explorados
vorazmente pelos grupos de bandeirantes que os haviam descoberto, no entanto
com a chegada de centenas de pessoas provenientes de outras regiões os
bandeirantes paulista se veem rapidamente em desvantagem numérica e a tensão
cresce rapidamente entre os dois grupos que passam a recorrer a violência para
resolver suas disputas sobre os pontos de mineração. O episódio ficaria
conhecido como a “Guerra dos emboabas”, sendo emboaba o nome de um pássaro de
pernas finas e emplumadas que os paulistas, para ridicularizar os portugueses passam
a os chamar, devido as suas vestimentas mais sofisticadas. A chamada Guerra dos
emboabas termina com o massacre de dezenas de paulistas e sua expulsão da área
de Minas Gerais. O episódio deixou o governo português em alerta, e o fez ver a
necessidade de organizar o processo de exploração do ouro e de levar à região
uma infraestrutura jurídica para que os constantes conflitos sobre posse de
terras, riquezas e direitos de exploração passassem a ser resolvidos através
das vias legais.
Após os conflitos iniciais a
região rapidamente se urbaniza, surgindo dezenas de vilas e cidades. Para
atender as necessidades da população local passam a atuar na região mercadores,
artesãos, taberneiros, boticários, cirurgiões-barbeiros, tropeiros etc...
Cria-se uma espécie de classe média na sociedade local, composta em grande
medida por estes profissionais.
Cidades como Diamantina,
Ouro Preto, Congonhas, Brumadinho, Serro, Mariana e Sabará, apenas para citar
algumas parecem surgir do dia para a noite. Nelas a cultura típica mineira
começa a tomar forma, na vida e no trabalho de milhares de seus habitantes. Em
todas elas a presença da coroa portuguesa através de seus funcionário públicos,
mineralogistas, juízes, militares e fiscais é constante. De todo o império
português no século XVIII a região aurífera de Minas Gerais é,
indiscutivelmente, a mais importante. Nela, estrangeiros são proibidos de
entrar, e todos que saem ou entram nas cidades precisam se apresentar as
autoridades. O controle é rígido.
Até a década de 1760
aproximadamente, a região viveria seu período de apogeu e glória, com igrejas
recebendo adornos em ouro, desenvolvimento em infraestrutura, principalmente em
estradas e organização social.
Afim de ligar todas as
cidades da região com os portos do litoral, em especial os de Paraty, Rio de
Janeiro e Santos, para que a riqueza seja escoada para Portugal, são criadas
uma série de “estradas reais”. Estas estradas, cruzando toda a região de Minas
Gerais, possui em sua totalidade 1.630 quilômetros de extensão e foram abertas e
mantidas através da exploração da mão de obra escrava. Por elas, ao longo de
todo o século XVIII, transitavam os próprios escravos, que trabalhavam em sua
abertura ou manutenção, tropeiros, conduzindo “tropas” de animais de carga
desde o Rio Grande do Sul ou São Paulo, levando a região alimentos, remédios,
ferramentas, roupas e inúmeros outros artigos que seriam vendidos nas cidades
mineiras. Destacamentos militares, enviados das cidades do litoral ou mesmo de
Portugal para manter a ordem e a fiscalização na área e principalmente o ouro,
prata e diamantes minerados no interior a caminho dos portos do litoral. Ao
todo, a Estrada Real subdivide-se em quatro principais caminhos sendo eles o Caminho
Novo, Caminho velho, Caminho dos diamantes e Caminho Sabarabuçu.
Sistema Tributário
Afim de garantir sua parcela
de lucros com a exploração do ouro e demais minerais e gemas preciosas na área de Minas Gerais, Lisboa passa a
organizar um sistema tributário onde destacam-se dois impostos principais
cobrados à população local, o quinto e a capitação.
O quinto recebia este nome
por incidir sobre o quinto da produção total, no caso de Minas Gerais, da
extração de ouro e pedras preciosas. Os minérios extraídos eram encaminhados as
Casas de Fundição, onde eram derretidos, separava-se a quinta parte,
registrava-se o selo oficial do governo real português nas barras, provando
assim que haviam passado pela casa de fundição e haviam sido portanto oneradas
pelo quinto.
Outro tributo era a
capitação. Este era cobrado sobre a quantidade de escravos que determinada
companhia, empresa ou individuo possuía e empregava no trabalho de mineração. O
raciocínio do governo português era de que quanto mais escravos se possuísse
empregados no trabalho de mineração, mais riquezas seriam extraídas e portanto
maior deveria ser os impostos cobrados.
A partir da década de 70 do
século XVIII a produção aurífera começa a diminuir devido a dificuldade
crescente de se extrair ouro, que começava a escassear. Em face a essa
situação, a coroa portuguesa institui a Derrama, uma taxação extra, cobrada anualmente
das vilas e cidades mineiras que não conseguissem cumprir a cota de cem arrobas
de ouro ao longo do ano. As comunidades que falhassem em arrecadar a quantia
necessária seriam tachadas pela derrama, onde os soldados do rei invadiam as
casas e fazendas de particulares e confiscavam quaisquer objetos de valor que
julgassem necessário para cobrir a diferença entre o que foi extraído de ouro
ao longo do ano e as cem arrobas determinadas pelo rei. Extremamente impopular, a
derrama seria um dos principais motores das revoltas regionais em especial a
Inconfidência.
Inconfidência Mineira
A população das cidades
mineiras, revoltada com a cobrança de impostos em especial a Derrama,
influenciados também pelos ideais de liberdade trazidos pelo iluminismo francês
e observando os ressentes acontecimentos mundiais, em especial a independência
dos EUA na América do Norte passaram a buscar formas de resistir ao controle
português. Um grupo de habitantes locais, formado majoritariamente por membros
da classe média mineira dentre eles poetas, comerciantes, militares e profissionais
liberais passaram a imaginar formas de transformar a situação na qual viviam.
Em pouco tempo, seus planos se encaminharam para as ideias de independência e
criação de uma nova republica na região.
Os planos dos inconfidentes
Inconfidente quer dizer
“aquele que trai a confiança”. Este termo foi cunhado tempos depois do ocorrido
em Minas Gerais e atribuído aos conspiradores contrários aos mandos da coroa
portuguesa. Em sua maioria, eram membros da chamada “elite mineira letrada”, os
que tinham certo poder aquisitivo e certo acesso a determinadas informações.
Entre os conspiradores
destacavam-se os poetas Cláudio Manoel da Costa, Inácio José de Alvarenga
Peixoto, o ex-funcionário público Tomás Antônio Gonzaga, os padres Oliveira
Rolim e Carlos Correia de Toledo, o filósofo Álvares Maciel e os militares
Francisco de Paula Freire de Andrade (tenente-coronel), Domingos de Abreu
Vieira e Joaquim José dos Reis (coronéis), Toledo Pisa (sargento) e o alferes
Joaquim José da Silva Xavier.
Os planos eram:
- Fundar em Minas Gerais um governo republicano independente de Portugal;
- Construir e manter uma universidade em Vila Rica, além de hospitais e escolas;
- Permitir e incentivar a implantação de manufaturas no Brasil, proibidas na colônia por decreto real;
- Transformar São João del Rei na capital do novo país. Tomás Antonio Gonzaga seria o primeiro presidente da República, e eleições para a escolha do novo presidente seriam marcada três anos após a posse.
O movimento revolucionário
estava marcado para acontecer no mesmo dia da derrama, e os conspiradores
seriam avisados nas vésperas com a senha “Dia tal é o batizado” onde
“tal”, claro, era o dia da derrama.
Os planos não foram à frente
pois a derrama, exigida pela Coroa, teve sua ordem suspensa no dia 14 de março
de 1789 pelo governador de Minas Gerais, Luis Antônio de Mendonça (o Visconde
de Barbacena) e o grupo conspirador foi denunciado no dia 15 de março por
Joaquim Silvério dos Reis, Basílio de Brito e Inácio Correia de Pamplona, em
troca do fim de suas dívidas para com a Coroa portuguesa.
Joaquim Silvério dos Reis
ainda foi mandado ao Rio de Janeiro, onde Tiradentes estava em uma viagem, a
fim de encontrá-lo e entregá-lo ao vice-rei Luis de Vasconcelos e Souza. Preso
em 10 de maio de 1789, Tiradentes inicialmente negou a participação na
conspiração, mas posteriormente assumiu toda a culpa pela “inconfidência”, tentando
evitar a condenação dos companheiros, capturados nos dias posteriores à sua prisão.
A sentença dos inconfidentes
Todos os envolvidos — à
exceção dos três elementos citados anteriormente que denunciaram a
conspiração — foram condenados por crimes de lesa-majestade, definidas
como “traição ao Rei”.
Cláudio Manoel da Costa
enforcou-se na prisão de Vila Rica, outros presos foram condenados à morte e ao
degredo. Mais tarde, por clemência de D. Maria I, todas as sentenças mudaram
para o degredo e os presos foram mandados para a África. Apenas Tiradentes foi
condenado à forca e sua sentença mantida.
Arte em Minas Gerais
Durante o chamado ciclo do
ouro o rápido desenvolvimento urbano da região, somado ao surgimento de uma
robusta classe média e a enorme riqueza extraída da região possibilitou o
surgimento de uma cultura artística típica e inconfundível, o barroco mineiro. Influenciados
tanto pelo barroco europeu, em voga neste momento histórico, quanto pela
mistura racial típica do Brasil, os artistas da região promoveriam o surgimento
de uma vertente verdadeiramente única do movimento barroco que ficaria
conhecido como barroco mineiro.
Nas artes plásticas
destacam-se o trabalho do Mestre Ataíde e de Aleijadinho. O primeiro, pintor,
trabalhou principalmente com a arte sacra, decorando o interior de igrejas,
mosteiros, conventos e catedrais. Habilidoso no emprego de luzes e tons
diferenciados bem como na criação de perspectivas de espaço. Aleijadinho por
sua vez trabalhou junto com Ataíde em uma diversidade de igrejas, esculpindo
estátuas, painéis, lavatórios, pias batismais, altares entre outras coisas.
Suas representações de anjos e dos apóstolos são consideradas obras
importantíssimas não apenas pela qualidade técnica mas também por representar
tais personagens com traços tipicamente brasileiros.
Em termos de música o
predomínio era das obras sacras, para serem executadas em festividades
religiosas e missas. A musicalidade popular também estava presente em cantigas
e músicas de festa, bem como a sonoridade típica das culturas africanas que ali
se encontravam devido a migração forçada da escravidão.
Ainda dentro do universo cultural
do barroco mineiro destacam-se a poesia, as danças e demais expressões
culturais populares, incluindo a culinária, símbolo da região até os dias de
hoje.
Conclusão
Colonial O apogeu da
mineração no Brasil Colonial ocorreu na primeira metade do século XVIII,
alcançado seu ponto máximo em torno de 1760. O ouro provocou grandes
transformações na colônia contribuindo para o povoamento do interior e o
crescimento demográfico do Brasil. Levou à fundação de numerosas vilas e
cidades e, com elas, a proliferação de profissionais das mais diversas áreas
que passaram a formar um núcleo urbano de classe média, possivelmente o
primeiro na sociedade colonial brasileira. O ouro permitiu construir igrejas
imponentes e revestiu seus altares e tetos. Mas enriqueceu poucos. A riqueza
acabou se acumulando de fato nas mãos dos comerciantes, locais e forasteiros. A
pobreza marcou a sociedade mineradora como bem analisou Laura de Mello e Souza.
Esgotadas as minas, o declínio foi relativamente rápido e, em 1780, a renda da
mineração era menos da metade do que fora no auge. A queda da extração
aurífera, contudo, não acarretou uma decadência econômica, como afirmava a
visão tradicional. A economia mineira, a partir da segunda metade do século
XVIII, diversificou-se com a produção de alimentos, atividades artesanais e um
vigoroso comércio.
As cidades mineiras conservam a arquitetura colonial do século XVIII
Pelos caminhos da Estrada Real circulava boa parte da riqueza do império português
O barroco mineiro pode ser encontrado nas igrejas, muitas delas ornamentadas com obras do mestre Aleijadinho
A pintura em perspectiva do teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, é um exemplo da genialidade do mestre Ataíde, pintor que trabalhou com Aleijadinho em diversos projetos.
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