segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Conflito árabe-israelense. A questão palestina



Com o fim da Guerra Fria e o início de um novo século imaginava-se que o surgimento de conflitos armados entre países ou povos seriam cada vez mais raros, sendo as divergências entre as nações tratadas pela ONU. O fim das disputas ideológicas e do financiamento de grupos armados ao redor do mundo pelas superpotências concorrentes, bem como a hegemonia econômica e militar dos Estados Unidos corroboravam para tal visão excessivamente otimista a respeito do século que se avizinhava. 


No entanto a realidade que se impôs foi a de um mundo multipolar, no qual a ONU se mostrou incapaz de conter as agressões sejam elas provenientes de países periféricos ou centrais, como ficou claro com a invasão norte americana ao Iraque em 2003. 


Dentro deste cenário antigos conflitos regionais continuaram a ocorrer sendo um deles o conflito árabe – israelense, principalmente no que tange as questões relativas a autonomia política da região da Palestina. 


Como o conflito começou? 



O movimento sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, ganhou força no início do século 20, em reação ao antissemitismo sofrido por eles na Europa. 


A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. As aspirações sionistas deram início a um forte movimento migratório judaico, que gerou resistência entre as comunidades locais. 


Após a desintegração do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações, órgão internacional antecessor da Organização das Nações Unidas (ONU), para administrar o território da Palestina. 


Antes e durante a guerra, contudo, os britânicos fizeram, tanto aos árabes quanto aos judeus, uma série de promessas que não se cumpririam - entre outras razões, porque o Reino Unido já havia repartido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre os dois lados que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes. 


Após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, aumentou a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. O plano original previa a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e palestinos. 

Após a fundação de Israel, em 14 de maio de 1948, a tensão deixou de ser local para se tornar uma questão regional. No dia seguinte, Egito, Jordânia, Síria, Iraque e Líbano invadiram o território. Foi a primeira guerra árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como a guerra de independência ou de libertação. Depois da guerra, vencida pelos israelenses, o território originalmente planejado pela ONU para um Estado árabe foi reduzido pela metade. 


Mas 1948 era apenas o início do longo confronto entre os dois povos. Em 1956, Israel enfrentou o Egito em uma crise motivada pelo Canal de Suez, conflito que foi definido fora do campo de batalha, com a confirmação pela ONU da soberania egípcia sobre a passagem naval, após forte pressão internacional sobre Israel, França e Grã-Bretanha. 


Em 1967, veio a batalha que mudaria definitivamente o cenário na região: a Guerra dos Seis Dias. Iniciada por ofensivas de Egito e Síria, a disputa terminou com vitória esmagadora de Israel sobre uma coalizão árabe. Após o conflito, Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, no Egito, tomou o controle da Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) da Jordânia e das Colinas de Golã da Síria. Meio milhão de palestinos fugiram. 

Israel e seus vizinhos voltaram a se enfrentar em 1973. A Guerra do Yom Kippur colocou novamente Egito e Síria contra Israel, numa tentativa dos árabes de recuperar os territórios ocupados em 1967. Em 1979, o Egito se tornou o primeiro país árabe a chegar à paz com Israel, que desocupou a Península do Sinai. A Jordânia chegaria a um acordo de paz em 1994. 

Em 1987, teve início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense, a intifada. A violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a assinatura, entre a OLP (Organização para Libertação da Palestina) e Israel em 1993, dos Acordos de Paz de Oslo, nos quais a organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de Israel "de existir em paz e segurança", algo que grupos mais radicais dentro da Palestina, como o Hamas, nunca aceitaram. 


Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele, por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades civis e de segurança controlam áreas urbanas (a chamada "zona A"). Somente representantes civis - e não militares - governam áreas rurais ("zonas B"). 


Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica pelos palestinos, não está incluída nesse acordo e é uma das questões mais polêmicas entre as partes. 


Em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, quando teve início a segunda intifada palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito permanentes. 

Quais são os principais pontos de conflito? 




A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e o bloqueio de Israel a Gaza, condenado pelo Tribunal Internacional de Haia, complicam o andamento de um processo de paz. 


Mas esses não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então presidente americano Bill Clinton não conseguiu mediar um acordo entre Yasser Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak


As diferenças que parecem irreconciliáveis são: 
  • Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira e afirma que a cidade é sua capital "eterna e indivisível", após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital. 
  • Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria Jerusalém Oriental, algo rejeitado por Israel. 
  • Assentamentos: ilegais sob a lei internacional, foram construídos pelo governo israelense nos territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, há mais de meio milhão de colonos judeus. 
  • Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com a OLP, dos quais cerca de metade são registrados na ONU) têm o direito de voltar ao que é hoje Israel. Mas, para o governo israelense, permitir seu retorno destruiria sua identidade como um Estado judeu. 

O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura? 



Israelenses teriam de aceitar a criação de um Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas três áreas que formariam o Estado palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. 


Grupos palestinos precisariam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel. Além disso, teriam de chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, assentamentos e o retorno de refugiados. 


No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram, especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e israelenses. Para Israel, esses são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967. 


Além disso, enquanto no campo militar a tensão é constante na Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de assentamentos israelenses, o que reduz, na prática, o território palestino nestas áreas. 


Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém. Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o Hamas, em Gaza, reivindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel tê-la ocupado em 1967. 


Consequências e perspectivas futuras.



Enquanto isso, cerca de meio milhão de palestinos continuam sem um Estado que os represente e assegure seus direitos enquanto seres humanos, sendo que centenas de milhares de palestinos, expulsos de seus lares a gerações devido aos conflitos com Israel continuam vivendo em condições sub-humanas em países árabes vizinhos. Esta população permanentemente deslocada de sua terra natal, vivendo em situações de extrema pobreza e constantemente humilhada pela lembrança e pelas consequências das derrotas sofridas no passado são uma fonte constante de recrutamento e doutrinação por parte de grupos islâmicos radicais que oferecem a essas pessoas desesperadas uma alternativa de vida, mesmo que muitas vezes violenta e breve. 

A solução, como demonstrado acima, seria a criação definitiva de um Estado árabe palestino. Para tanto seria necessário fazer uma série de concessões territoriais aos árabes, algo que até o momento nenhum governante israelense conseguiu fazer de forma satisfatória devido a enorme influencia que os grupos mais ortodoxos da política israelense exercem sobre a dinâmica política daquele país. Recentemente o projeto de criação de um Estado palestino se tornou ainda mais distante com o anuncio do presidente americano Donald Trump de que os Estados Unidos irão reconhecer Jerusalém como a capital legitima de Israel e inclusive mover sua embaixada da cidade de Tel Aviv para Jerusalém. O peso desta decisão praticamente sepulta o sonho de criação do Estado Palestino, visto que tal Estado, caso seja criado, teria como sua capital uma parte da cidade de Jerusalém.


Progressão do domínio israelense sobre a região desde a criação pela ONU do Estado de Israel em 1946.
Soldados árabes se rendem a militares israelenses durante a Guerra dos Seis Dias.
Judeus celebram o Yom Kippur em Jerusalém. O Yom Kippur é um feriado religioso hebreu e em 1973 os países árabes atacaram Israel durante a celebração deste feriado buscando surpreende-los.
Campo de palestinos expulsos de suas terras após a guerra de 1948. A foto foi feita em 1952 e muitas das famílias palestina deslocadas para este campo de refugiados permanece lá ainda hoje.
Campo de refugiados palestinos nos arredores de Damasco, Síria. 
Yasser Arafat. Líder da OLP (Organização para Libertação da Palestina). Arafat foi um líder palestino respeitado internacionalmente.
Desfile de tropas do Hamas. O Hamas é um grupo político-militar radical que controla partes da Palestina e luta pela independência de seu país. 

A baixo, dois videos do canal Nerdologia de História sobre a questão árabe-israelense:

De quem é Jerusalém?





Guerra dos Seis Dias






Referências

Site da BBC

<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42268607> Acessado em 22/10/2018

Canal do Youtube: Nerdologia de História
<https://www.youtube.com/watch?v=ptTZKSpZn14> Acessado em 22/10/2018
<https://www.youtube.com/watch?v=mDCS9hFLbQ0&t=313s> Acessado em 22/10/2018

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